terça-feira, 22 de março de 2011

Uma Carta de Sara

Deixei Ur dos Caldeus rumo a Canaã com meu marido Abraão.
Éramos felizes, mas eu era estéril. Mesmo assim, Deus nos convocou a gerar uma nação em terra estranha,prevendo que nossos descendentes a herdariam. Era isso o que nos impulsionava. Era isso que nos movia.
Mas, apegada a mim, havia uma diminuta sombra de dúvida que cresceu além do que pude conter. Minha esterelidade virou grande frustração de desejos e enredou planos dos quais logo me arrependi.
Era certo que Deus tinha dado a promessa. Mas, talvez, cresse que seríamos mais ativos para cumpri-la. Descendentes poderiam vir não só de um filho genuinamente nosso. Pareceu melhor o trajeto comum às mulheres de meu tempo: ceder a serva Hagar a Abraão para,por meio dela,dar-lhe um filho.
O plano funcionou. Hagar gerou Ismael. Porém, nada foi mais desastroso do que a presença deles em nossa família. Hagar assumiu posto feminino de igualdade nas relações caseiras. Isso me acresceu novas porções de inveja, provocando desentendimentos contínuos entre mim e ela, entre mim e Abraão. Só me restou tentar desfazer a grande armadilha que eu mesma contruí.
Mesmo com esses desencontros todos, Deus graciosamente nos deu Isaque,riso*-fruto da legítima promessa. A paz voltou à casa; a alegria, ao dia a dia. Mas marcas enraizadas ficaram na nossa história, na de Hagar e Ismael e na de tantas gerações seguintes; marcas que o tempo não conseguiu apagar.
*O nome Isaque significa “riso” na lingual hebraica.
Sara
Deus os abencoe,

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